sexta-feira, 14 de maio de 2010

CEM ANOS DE SOLIDÃO

O escritor colombiano Gabriel García Márquez é considerado um renovador do jornalismo por ter inspirado gerações de repórteres a paixão, o compromisso e a responsabilidade pelo ofício. Começou sua carreira de jornalista escrevendo para os diários colombianos El Universal (1948), El Heraldo (1950) e El Espectador (1954). Também foi correspondente das revistas venezuelanas Elite e Momentos (1957) e da agência cubana Prensa Latina. Depois de vários anos na Europa, Estados Unidos e México, "Gabo" fundou em 1974, em Bogotá, a revista Alternativa.
Quando "Gabo" chegou ao El Espectador, ele já tinha uma certa áurea literária e também a intenção de misturar literatura e jornalismo, mas se deparou com um choque de forças em uma redação que naquele momento aspirava fazer o melhor jornal do mundo. Decepcionado com a ilusão infantil de colegas maduros, seguiu as opções já citadas. Tempos depois, em 1994, criou a Fundação Nuevo Periodismo Ibero-americano, na qual jornalistas experientes como o argentino Tomás Eloy Martínez, o espanhol Miguel Angel Bastenier e o polonês Ryszard Kapuscinki, entre outros, ministraram oficinas e seminários para jovens repórteres. A experiência fez com que ele lançasse, em 1998, a revista Cambio, da qual foi proprietário e chefe do conselho editorial. Posteriormente, ante a crise dos veículos impressos, vendeu em 2005 o semanário ao jornal colombiano El Tiempo.


Revirando alguns textos e livros mais antigos, que são meus parceiros há muito tempo, encontrei uma preciosidade mais recente - "Dicionário Amoroso da América Latina", de Mario Vargas Llosa, publicado em 2006. Há um trecho iluminado sobre um dos maiores escritores do mundo, Gabriel García Márquez, o jornalista descrito no texto acima. Vamos ao texto magistral. "A publicação de Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez constitui um acontecimento literário excepcional, com sua presença luciferina, esse romance tem o mérito pouco comum de ser, simultaneamente, tradicional e moderno, americano e universal, volatiza as lúgubres afirmações de que o gênero será esgotado, em processo de extinção. Além de escrever um livro admirável, García Márquez conseguiu restaurar uma filiação narrativa interrompida há séculos, ressuscitar a noção ampla, generosa e magnífica do realismo literário que tiveram os fundadores do gênero romanesco na Idade Média. Graças a Cem Anos de Solidão se consolida mais firmemente o prestígio alcançado pelo romance americano nos últimos anos e este atinge um patamar ainda mais alto.


Quem é o autor desta façanha? Um colombiano com 39 anos - na época do lançamento -, nascido em Aracataca, um vilarejo da costa, que no início do século 20 conheceu a febre, o auge da banana e depois a ruína econômica, o êxodo de seus habitantes, a morte lenta e sufocante das aldeias do trópico. Menino ainda, García Márquez escutou dos lábios de sua avó, as lendas, as fábulas, as prestigiosas mentiras com que a imaginação popular evoca o antigo esplendor da região, e reviveu, ao lado do avô, um veterano das guerras civis, os episódios mais explosivos e sangrentos da violência colombiana. O avô morreu quando ele tinha oito anos. Como qualquer um dos Buendía, os homens nascem na América, hoje, condenados a viver em solidão, e gerar filhos com rabos de porco, quer dizer, monstros de vida inumana e ínfima, que vão morrer sem realizar-se plenamente, cumprindo um destino que não foi escolhido por eles.


Nos últimos anos, tem aparecido, em diferentes lugares da América, uma série de livros que imprimem à ficção uma originalidade que põe nossa literatura num nível de igualdade com as melhores do mundo. Cem Anos de Solidão é, entre esses livros, um dos mais deslumbrantes e belos". Passar pela vida sem ler a obra de Gabriel García Márquez é impensável, para quem busca transmitir conhecimento.

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