No decorrer das 210 páginas do livro Pornografia, de Witold Gombrowicz, o leitor descobre o sentido mais intrínseco da expressão. Aborda a história de um homem que viveu a distância - na Argentina -, o massacre de sua terra natal, a Polônia relembrada de 1943 e invadida, violentada, pela Alemanha Nazista desde 1939. Milhões de conterrâneos assassinados por uma cultura europeia oxigenada pela intolerância. Gombrowicz fez um cruzeiro no final tenebroso da década de 30. Por mais 20 anos adotou a Argentina. Enquanto distante, o nazismo criava a inescrupulosa fábrica de assassinatos, Auschwitz. Pornografia na mais profunda essência, enquanto os confrontos da guerra e o sexo não são implícitos no texto descritivo, onde o autor é narrador e um dos protagonistas, é entrelaçado pela contraposição entre um rosto vincado que a guerra enrugou e a pele macia da juventude. Seus personagens remetem ao homem de "Russeau", que nasce bom para ser corrompido pela realidade desnudada pela guerra, pela crise. Pornografia sim, mas distante da pureza da sensualidade, isenta de promiscuidade; é a luta entre morte e desejo.
Henia e Karol são adolescentes bonitos, sensuais, mesmo assim, não se permitem dar vazão ao desejo, impedidos pela força dos dogmas consequentes de religiões ou do paganismo. Respiram de um mundo entorpecido pela fuligem, que impede ser protagonista da própria vida. Henia está prometida a um advogado bigodudo, a sisudez em carne e osso. A negação da libido é a própria Pornografia. Essa promiscuidade é visível em todo canto do planeta. Como nas décadas de 30 e 40, do genocídio nazista sustentado pela crise de 1929, as incertezas de nossos dias indicam sua própria pornografia - xenofobia, amnésia da esquerda sempre prometendo socialismo misturada com a extrema direita, com a tecnocracia, a superioridade do capital sem limites e sem retorno social, a violência de todos os becos, a renovação dos preconceitos hipócritas e das ditaduras obscuras, da cocaína ao crack constata-se a perda de perspectivas, de prumo e de rumo, enquanto a sensualidade humana torna-se mira de um grande cabaré, do nosso cabaré BBB. O livro Pornografia ensina que ela é explícita por suas nuances, pelo massacre da naturalidade, da sensualidade sem pré-definições, sem negações. Assim, felizes foram os índios, distantes... Quem olhar em volta com muita atenção, enxergará, porque a promiscuidade está à vista.
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