À Luz da Lamparina, obra-prima da empresária Evani Wolf, filha da miséria absoluta da cidade de Mata, é livro raro na estande dos mais autointitulados intelectuais. Mas, o prefácio leva rubrica de Constanza Pascolato. Nada é por acaso se vier da autenticidade. E corajosa como a autora a vida ensina e remete a epígrafe de Tolstoi. Evani Wolf desnutriu a alta sociedade do setor coureiro-fashion-calçadista, ao lançar sua visceral e surpreendente autobiografia. Nessa obra arrebatadora, ela faz reverência a sua infância sofrida e mágica nos confins da zona rural da hoje emancipada cidade gaúcha de Mata. Conhecida como diretora da sofisticada marca de vestuário Tactile, a empresária estreia abrindo toda sua gana de viver como sintetiza o prefácio assinado pela consultora de moda Constanza Pascolato. Iluminada pelo amor e admiração a sua mãe, que durante o dia trabalhava na roça e à noite costurava sob a luz de uma lamparina para garantir a renda familiar, ela se emociona ao revelar sua trajetória de vida, na qual descreve com precisão momentos inesquecíveis desde seus dois anos de idade. Corajosa, Evani remete a Tosltoi: Se queres ser universal, fala da tua aldeia!
Eis um pequeno trecho da obra-prima de Evani Wolf "À Luz da Lamparina".
"Minha mãe fazia de tudo. Dentro e fora de casa. Não tinha serviço que enjeitasse. Sabia preparar a terra e cultivar. Arar. Capinar. Socar arroz no pilão. Transformar inhame em café. Manejava o gadanho com a destreza e força de um homem. Nunca faltava verdura na horta. Sabia quando a lua tava boa para semear. Criava, engordava, cevava a galinha. Quando tinha uma vaquinha, tirava leite, e do leite tudo o que ele podia dar. Buscava lenha no mato e o machado não a intimidava. Aproveitava os cavacos. Usava martelo, torquês, machadinha e facão. Minha mãe podia não fazer nada disso, como tantas outras mulheres. Mas ela fazia. Com prazer e com vontade. Minha mãe curava. Com chá. Com brodo (caldo de sopa). Com reza. Com fé. Com amor."
Evani é filha de Ema Maurer, que teve outra filha e um filho, antes de ficar viúva, quando a pequena tinha apenas dois anos. Do rancho de chão batido, coberto de capim, a menina revela uma das faces mais emocionantes do livro "À Luz da Lamparina", seguramente inspirada pela sombra iluminadora de sua mãe. "A menina de dois anos caminha no campo, após o sol se por, e neste dia, a mãe não lhe manda entrar. Ela descobre a lua cheia e o brilho das estrelas. Caminha sempre mirando o céu e deduz que a lua e as estrelas andavam com ela, a seguiam." Hoje, Evani Wolf é mais do que uma grife um tanto esquecida, a Tactile de Sapiranga, onde sua mãe Ema pode costurar mais e dar espaço universal ao estudo da filha, quinta gaúcha a cursar mestrado em linguística na PUC. Mas, retornando ao livro "À Luz da Lamparina", tive o raro privilégio de receber Evani na sala de entrevistas da Revisa WS International e entrevistá-la, pois essa postagem reflete pequeninos trechos de uma longa matéria superproduzida em que exigi do fotógrafo Tiago Heckler mais de 300 fotos de estúdio para escolher cinco. Tempos inesquecíveis de muitas honrarias, glórias, mas nada comparável à expressão de humildade da filha da Mata. Nunca me identifiquei tanto com uma personalidade como a de Evani. Aparências diluem, humildade e honestidade petrificam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário