sexta-feira, 9 de abril de 2010

ELE ANDA SUPRINDO CARÊNCIAS, TESÕES A MIL


De Priscilla Zamarioni
14/03/2010
Entrevista
As muitas faces de Mateus Solano
Dedicado e talentoso, o ator vê seu trabalho reconhecido e sua carreira decolar

Todos querem fugir do rótulo de galã, mas o ator que vem interpretando os gêmeos Jorge e Miguel da novela Viver a Vida, não. Ele até “aceita” o título, mas despreocupado, concentrado em fazer um bom trabalho… Ponto pra ele, que além de lindo, é competente e fim de papo – e, por essa razão, vem arrastando uma legião de fãs não só por sua atuação no folhetim, mas também por sua postura fora das câmeras. Filho de um diplomata e de uma psicóloga, é dedicado. Grava dobrado (e brinca sobre o fato do salário não ser), tem a maior boa vontade de conversar com os seus fãs sobre os rumos de seus personagens e faz parte daquele grupo de atores que não se deslumbram com o sucesso. No auge de seus quase 1,90 de altura, Mateus Solano tem os pés fincados no chão e, da mesma forma que fala de sua profissão, não faz charminho para esconder sua vida pessoal. Declara sem medo seu amor e sua fidelidade à namorada, a atriz Paula Braun, deixa claro que não é um personagem – que empresta tanto ao Miguel quanto ao Jorge -, e confessa que depois da novela pretende voltar aos palcos do teatro e a fazer cinema, mas que antes, como todo mero mortal, pretende descansar um pouquinho com a promessa de recarregar as baterias e voltar com força total… Quem ousaria duvidar ?
Como surgiu o convite para fazer gêmeos?
Na hora, pintou receio? Na época que estava gravando a minissérie Maysa. Fui convidado para fazer a novela pelo Jayme (Monjardim) e pelo Maneco, mas só dois meses antes de começar as gravações é que eu soube que se tratava de gêmeos. Aceitei de imediato, exatamente por ser um grande desafio. No início fiquei bem nervoso, mas depois que comecei a trabalhar fui ficando mais tranquilo e confiante.
E a inspiração? Como fez para compor os personagens?
Fiz uma preparação com a Patrícia Carvalho, (preparadora de elenco), tentando entender e separar as diferenças entre os dois personagens. Tive também que fazer alguns ensaios técnicos de marcação e câmera para criar as cenas nas quais os gêmeos contracenam. No início, a diferença entre eles tinha que ser bem definida, mas sem cair em clichês ou exageros. Me policio o tempo todo, mas a preparação criou bases para que isso acontecesse. Me dá muito prazer quando ouço alguém perguntar se são dois atores. Suspiro aliviado e penso: “Estou fazendo bem meu trabalho!” (risos).
Há uma curiosidade muito grande em entender a dinâmica. Como funciona?
São usadas técnicas de filmagem e também um dublê. Para contracenar “comigo mesmo”, conto com a participação fundamental do ator Gabriel Delfino. Como já disse, a contracena é fundamental e eu preciso de um ator de verdade para que pareça que estou realmente falando comigo mesmo. Faço a cena como Jorge e Gabriel de Miguel – aparecendo quase sempre de costas. Depois, repetimos a cena ao contrário. Nesse caso, a câmera utiliza uma tecnologia “wip”, que divide a tela em dois. A primeira cena gravada só vale do lado esquerdo (quando estou de Jorge) e a segunda só vale do lado direito (quando contraceno como Miguel). Após isso, o Gabriel é apagado sempre do outro lado. Para fazer as brigas, a tecnologia é bem mais complicada e envolve uma noção de espaço e tempo muito precisa para funcionar. Cenas como a briga entre os dois podem levar uma tarde inteira. Mas o Gabriel só trabalha quando os dois interagem.
Isso deve tomar bastante tempo…Como faz para conciliar as gravações e sua vida pessoal?
Gravo praticamente todos os dias de segunda a sábado, o dia todo. Minha vida atualmente é Projac-casa-Projac. Tento reservar o domingo para a mulher, família e amigos.
Esse boom todo de sucesso mudou sua rotina? Tem sido muito assediado?Minha rotina mudou devido as gravações da novela. As pessoas que me param para pedir
autógrafos ou tirar fotos são sempre muito gentis e educadas. Todos falam do trabalho e adoro trocar informações com quem assiste a novela.
E a personalidade de ambos…O que o Mateus tem do Jorge e o que o Mateus tem do Miguel?
Claro que tem um pouco de Mateus Solano em cada um deles, mas não me pareço especificamente com nenhum. Os personagens são possibilidades de um ator, mas não têm a ver com sua personalidade fora do trabalho. Acho que eles são personagens sociais. Jorge representa nossa vontade de fazer tudo como manda a cartilha: casar, ter filhos, estabilidade financeira e morrer feliz. Já o Miguel representa nossa vontade de quebrar barreiras sociais, poder viver a vida mais intensamente sem tantas amarras, compromissos, responsabilidades.
Tem predileção por um deles?
Não, de forma alguma. Se tem alguém que não pode ter preferências sou eu! (risos). Defendo cada um com unhas e dentes. As pessoas gostam mais do Miguel e condenam atitudes do Jorge, mas acho que não se colocam no lugar dele: um cara fechado, sem jogo de cintura emocional, que é comparado desde pequeno ao irmão engraçado e descolado, e que agora está interessado em sua mulher… Acho os personagens de Manoel Carlos extremamente humanos.
Se fosse a Luciana, ficaria com quem?
Acho que o Miguel é melhor para a Luciana, para sua autoestima e, consequentemente, para sua reabilitação. Seu amor não vê defeitos ou limitações nela. Já o Jorge tem como referência a Luciana de antes do acidente, e não consegue mudar isso.
Em um programa dominical você fez uma declaração à sua namorada. É romântico?
Sou romântico e acredito no amor que estou vivendo. Acredito num acordo do casal.
É cinéfilo? Por quem gostaria de ser dirigido, e se fosse diretor, quem gostaria de dirigir?
Gosto demais de cinema! Sou um ator que gosta de fazer de tudo e passar por experiências múltiplas. Adoraria trabalhar com Almodóvar, mas também com Spielberg! Se fosse diretor gostaria de poder escolher atores que admiro , mas nem citarei nomes porque são muitos! (risos).
Ser rotulado como galã te incomoda?
Um rótulo é algo que te limita, te coloca num só lugar. E acho que a profissão do ator é uma das mais plurais que possa existir. Sou ator e, nesse momento, interpreto dois galãs completamente diferentes. É isso o que mais me atrai na minha profissão, a possibilidade de poder viver vários personagens. E tem sido muito bom trabalhar os dois e aprender diariamente com eles.
Quando percebeu que seria ator? E se não interpretasse, que profissão gostaria de ter?
Desde pequeno minha mãe me levava ao teatro e eu gostava muito de ir. Creio que começou daí o meu interesse. Lembro de pedir pra assistir “O Gato de Botas”, no Tablado, mais de quatro vezes, em 1987. Eu tinha uns seis anos de idade. Minha primeira grande realização acho que foi estrear como ator naquele palco, 14 anos depois. Nunca pensei em ser outra coisa…
E em 2010, onde o Mateus pretende estar? Fazendo o quê?
Pretendo finalizar a novela com a mesma força e vontade do início. Depois, quero viajar e descansar, repor as energias para um novo trabalho.

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