segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Memórias do DEMO










Trata-se de um livro interessantíssimo de ficção, obviamente, de Gilberto Vilar de Carvalho, lançado pela Editora Marco Zero (1985). O autor é paraibano que emigrou para São Paulo, rumou para a França, Holanda e Alemanha. Nessas andanças foi ordenado padre da Ordem dos Dominicanos. Quando professor no convento de São Paulo teve alunos como Frei Tito, uma das vítimas da monstruosa ditadura militar pela selvageria do delegado Fleury. Afastou-se do convento com permissão do Papa Paulo VI e casou no civil e no religioso. Em Memórias do Demo exala talento ora com cheiro de enxofre, ora com perfume angelical, contraria a ordem pré-estabelecida, questiona e comprova equívocos de teólogos, filósofos e similares em longa análise que leva o leitor a mergulhar no Antigo Testamento, em contrariedades bíblicas, lança textos de Santo Agostinho, Machado de Assis, apóstolo Paulo, Heráclito, Vinícius de Moraes, Carlinhos de Oliveira... E com muito humor satiriza o eterno drama - eterno para ele não significa infinito e, sim, um período acima da capacidade de interpretação dos seres simplesmente humanos - da escolha entre o bem e o mal. Defende a teoria da Grande Crise como salvação da civilização como retorno à individualidade, há séculos, aprisionada pelas regras de viver em sociedade. De obedecer. É preciso ler Memórias do DEMO para entender com mais exatidão a profundeza das estruturas sociais, apesar da linguagem satírica, pra lá de bem-humorada e ficcionista, é uma obra-prima ideal para ler nestes tempos de férias. Enfim, a opiião do ateu Darcy Ribeiro e do católico Antonio Carlos Villaça, tornam esses comentários anteriores sumariamente modestos e acanhados. Nunca gostei de escrever para blog, mas depois desse contato com o DEMO, muita coisa começa a mudar.

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