sábado, 30 de janeiro de 2010

Mestre do Improviso, Jayme Caetano Braun




O mestre do improviso faleceu em 8 de julho de 1999, em Porto Alegre. Passados mais de dez anos de sua morte, quando tinha 75 anos, o inimitável pajador de Bossoroca continua sendo reverenciado como um dos maiores artistas do nosso tempo no Rio Grande do Sul e um homem que estava sempre disposto a defender a cultura e os valores do gaúcho no palco ou longe dele. Era poeta comparável aos de fama nacional, mas seus versos ficaram atrelados aos horizontes do gauchismo. Mesmo assim, a pajada somente foi reconhecida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcha (MTG) dois anos após sua morte. A pajada, resgatada por Jayme Caetano Braun, tem raiz cultural na herança lusa da lírica medieval da baixa idade média, dos trovadores galaico-portugueses, dos cantores açorianos e também dos trovadores espanhóis. E nada aconteceu por acaso. Quando em junho de 1958, protagonizou com "Santos" sua primeira pajada, no 2º Rodeio de Poetas da EPC, em Caxias do Sul, estava preparado. Havia presidido no ano anterior, assessorado de Dimas Costa, João Pio de Almeida e Vasco Leria, a comissão de estudos das correntes da poesia gauchesca do 1º Rodeio de Poetas. Essa comissão tratou, entre outros temas, de pajadorismo, epigrama, vultos exponenciais em cada época e corrente, e década farroupilha. Por isso conhecia o caminho que trilhou com talento e sabedoria. Conquistou galpões e palácios, analfabetos e literatos, velhos e jovens, o seu tempo e o futuro. É responsável pelo surgimento de novos pajadores e do chamado Movimento Pajadoril Gaúcho. Tornou-se inspiração para novos pajadores que alargam os horizontes do verso rio-grandense. A nova geração de repentistas em décima do Rio Grande do Sul torna realidade a integração das três pátrias pampianas que tanto Braun sonhou. Atualmente, há discos produzidos com pajadores do Brasil, Uruguai e Argentina, e participações internacionais nesses países, no Chile, na Venezuela, Espanha e Portugal. Seus seguidores levam seu nome a estes e outros países e, hoje, Jayme Caetano Braun é comparável aos principais improvisadores e decimistas do mundo como Índio Nairobi, de Cuba, Carlos Molina, do Uruguai, e Miguel Candiota, da Espanha.
O QUE ELE DISSE
"Por longe que um homem vá, nunca fugirá de si.
A lembrança de um ausente
tem mais força que a presença!
Coração é um órgão nobre,...
que bate do mesmo jeito no
rico como no pobre.
Sem ter direito de comer nem
o que planto, só não entendo é
tanta terra e pouco dono.
Não há mentira,
tampouco meia verdade.
A vida é um crédito aberto
que é preciso utilizar... porque
na conta da vida não adianta
saldo médio.
Lei que a vida promulga essa
gente não revoga.
Não tenho a terra própria
porque a história que eu escrevi
me deserdou no testamento.
Eu preferia morrer se me
chegasse a faltar a vontade de
cantar e o direito de querer.
Era meu tudo que havia na
terra que já foi séria, onde
exploram a miséria e comem a
geografia.
O que trazia alma pura em
todas as dimensões, o Autor
de mil sermões de montanha
e descampado, acabou
crucificado no meio de dois
ladrões.
A gente da minha gente, a cepa,
o tronco, a raiz, posta perante
o País na condição de indigente.
É PRECISO SABER:
Jayme Caetano Braun foi e segue sendo insuperável no improviso rimado, em especial nas pajadas de décima. Dotado de uma memória surpreendente, era capaz de guardar dados assombrantes, como fez em uma das edições do Musicanto de Santa Rosa. Ele leu em 10 minutos, um livreto de aproximadamente 30 páginas, revisou algumas e apresentou cinco noites do festival, improvisando sobre aqueles dados. Jayme era incrível e continuará sendo, para orgulho de seus conterrâneos missioneiros do Rio Grande do Sul.
(Luiz Carlos Borges, músico, cantor e compositor)

Há um poema do Jayme que diz: De volta ao mundo potreiro do meu calvário de penas, onde até as almas serenas precisam não esquecer que mais que muito aprender vale aprender "cosas buenas". Cada vez que contato com seus versos e canções me bate à porta esse ensinamento: a vida há de valer eternamente muito mais pela qualidade do que pela quantidade. Cada verso seu evoca uma esperança, aponta um caminho, deseja um tempo em que todo homem compreenda que um destino não é melhor que outro - que somos todos muito estranhos e sobretudo muito iguais a nós mesmos. E que para cada Martin Fierro há de haver sempre um Sargento Cruz, ombro a ombro pela escuridão e pelas claridades do mundo.
(Vinícius Brum, cantor, compositor e coordenador de tradição e folclore da SMC)

Um comentário:

  1. Este texto acima é uma copia mal feita do texto publicado no Caderno de Cultura da Zero Hora em 04/07/2009 – autoria de Paulo de Freitas Mendonça
    (Há nomes errados no teu texto)
    Se quiseres copiar o texto correto vá a este endereço,mas por favor de crédito ao autor. http://nativismo.com.br/mala_de_garupa.php

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