O ensino de história na Alemanha caminha sobre terreno delicado quando aborda o período nazista e a participação do país na II Guerra Mundial. O fenômeno é compreensível, mas gera tabu aos que se reproduzem há gerações, fruto de combinação entre um difuso complexo de culpa e o receio de que eventuais manifestações de caráter totalitário sejam capazes de reviver fantasmas do passado.
A fábula de ordem política e comportamental apresentada no filme A Onda (Alemanha, 2008, 106 min., disponível apenas para locação) mexe neste vespeiro de forma direta e contundente,ambientado em escola de ensino médio uma adaptação de episódio verídico, mas registrado em Palo Alto, na Califórnia (EUA), em 1967, com o professor Ron Jones, então com menos de 30 anos.
O escritor Todd Strasser reconstitui o caso em forma de romance, que já havia dado origem a um telefilme norte-americano de 1981. Determinado a mostrar a seus alunos os mecanismos de funcionamento de um regime autoritário, Jones se insinuou a eles como líder messiânico. Com isso, angariou seguidores fieis, dispostos a se entregar pela causa. O problema é que o exercício realista demais, fugiu ao controle do professor.
Em A Onda, a transposição da circunstância para a Alemanha de hoje torna o ponto de partida altamente duvidoso, mas provocador: e se um professor de história, diante de alunos céticos a respeito da possibilidade de cidadãos comuns serem seduzidos por líderes fascistas, resolvesse demonstrar na prática, como foi que a geração de seus bisavôs viveu, há quase 70 anos, a aventura sombria do nazismo?
O diretor e roteirista alemão Dennis Gansel - que tratou da academia de formação da elite nazista em seu longa anterior, NaPolA (2004) - termina por cometer uma espécie de ato falho: ao responsabilizar o perfil psicológico dos personagens pela adesão à causa fascista, seu filme sugere como ainda é difícil, na Alemanha unificada, lidar em termos políticos com o entendimento da barbárie e a sua possibilidade de ressurreição.
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