domingo, 23 de maio de 2010

QUANDO TODOS SÃO OS MESMOS

A literatura desta brilhante escritora faz perceber que a escrita não conhece idioma, religião, nem muito menos sexualidade. Virginia Wolf em "Orlando" deixa espaço, para que vivamos junto com o personagem todas as suas contestações a respeito do mundo masculino, na primeira parte do livro, e do feminino, na segunda parte, mesmo com a atmosfera da velha Inglaterra temos o prazer de transitar do Velho Mundo para o mundo contemporâneo tranquilamente.
As angústias de Orlando são as nossas angústias, sua solidão é a nossa. Nos tornamos um corpo só, e sem perceber, nos transportamos ao universo alheio com a mesma facilidade com que penetramos o nosso.
Virginia Woolf, com a sua técnica de fluxo de consciência e talento incomparável, nos mostra as angústias e medos, as paixões e vontades do personagem de maneira poética, envolvente e curiosa: Orlando, depois de séculos, se torna Lady Orlando, sofrendo essa mutação, que o faz ver o mundo de um ângulo feminino. As restrições, os receios, outras ambições e o sexo - Woolf expressa muitos de seus ideais feministas e se mostra cáustica nos comentários. O livro, também com uma adaptação para o cinema, fascina o leitor através do singular Orlando, e mostra como o tempo se arrasta e continuamos nos revolucionando internamente - sendo homem ou sendo mulher, com todas as nossas inquietações. Virginia Wolf é imprenscindível. Orlando é a sociedade sob o ícone da umidade que a tudo penetra, domina e ninguém escapa. Ainda que não queira. Para melhor entender a vida, a teoria da repetição, as armadilhas que já nos pegaram e prendem gerações medievais ou cibernéticas, a resposta está aí. Quem não leu, tem uma boa oportunidade de compreender o que já deve ter apenas - entendido.

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