quinta-feira, 22 de abril de 2010

NOVELA TEMPOS MODERNOS DA REDE GLOBO ESCONDE HISTÓRIA DA VERDADEIRA GALERIA DO ROCK


A Baratos Afins não é simplesmente uma loja que vende música. Trata-se, sim, de um ícone da Galeria do Rock - endereço de São Paulo que se modernizou para novela da Globo, virou palco de desfile da São Paulo Fashion Week, mas segue na memória da cidade como um ruído dos tempos da rebeldia, um lugar de resistência.Entre os cinco andares um imenso boneco de Elvis Presley parecia perdido, no final de 1963, prestes a casar com Priscila, enquanto o Brasil era prenúncio do mais baixo golpe contra os sonhos da liberdade juvenil - o advento da maldita ditadura militar de 1964! Brasileiros como Erasmo Carlos resistiram na base da Jovem Guarda, mas apesar dos pesares a Galeria é "globolizada" e a ditadura militar "amaldiçoada".

ECOS DO PASSADO
A galeira que surge platinada na novela Tempos Modernos exibida pela Rede Globo, já foi um antro sujo, mal iluminado, um pobre conjunto de salões de beleza, alfaiatarias, oficinas de assistência técnica e inferninhos de paredes vermelhas e sofás suspeitos. Há 30 anos, havia a loja Baratos Afins, as escadas rolantes sequer funcionavam e o escuro era tanto, que mal se conhecia ver o que rolava nos corredores. Remanescentes lembram que o segundo andar era uma caverna.
Eis que um figuraço chamado "Luis Calanca", quixotesco sobrevivente dos primeiros tempos da proposta de loja ali estabelecida como musical revolucionária, associou-se a outros lojistas a meio pau de grana, que se entusiasmaram e conseguiram, depois de anos, derrubar a liderança truculenta do "síndico baixaria", o zelador que se tratava de um sujeito avesso a novidades, figura típica da ditadura militar, que resolvia reuniões batendo com um revólver na mesa. A galeira deu um salto à Luis XV - nova iluminação sobre as modestas vitrinas da Baratos Afins e de outras lojas que alimentavam jovens avessos à música comercial das rádios.

REVOLUÇÃO PELA MÚSICA
Gerações de roqueiros começaram a frequentar cada vez mais o espaço erguido pelo arquiteto Alfredo Mathias (que também projetou o Shopping Iguatemi), em 1963. Era um lugar de resistência, onde os músicos das bandas se encontravam, traçavam informações exclusivas, em encontros por vezes violentos entre punks e skinheads, o que garantia ao local uma aura de autenticidade e rebeldia. Em 1994, a Baratos Afins virou local de peregrinação para fiéis do rock autêntico. Até o brega Amado Batista passou por lá. Queria conhecer o quase homônimo Arnaldo Baptista (Mutantes com Rita Lee...). A lista dos clientes diários é enorme. Inclui de Titãs a Legião Urbana e também jornalistas e escritores como Nelson Motta e Ruy Castro.

"Ir para a Galeria era como desbravar terras alienígenas"
(Fabio Massari)

Das primeiras viagens à Galeria do Rock a gente não esquece - principalmente porque a empreitada era uma espécie de aventura, desbravamento de terrenos praticamente alienígenas - uma viagem mesmo. Lembro do primeiro disco (vinil duplo) que comprei na Punk Rock - um bootleg fabuloso do Blondie, Live at Hammersmith Odeon. Lembro também que a Baratos Afins, no começo tinha o tamanho de uma cabine telefônica.
Ficha técnica: Fabio Massari era amigo de Tim Maia e de Luis Calanca, tinha rara habilidade com a agulha como farmacêutico diplomado, o que valeu o apelido Mão de Veludo, dedos para tocar música - na vitrola, no três em um - para vender.

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