sábado, 16 de janeiro de 2010

Procriar para consumir


Alguns dos nomes mais fortes do jornalismo praticado no Brasil, defendem abertamente o controle da natalidade para frear a pobreza e o alastramento de programas como bolsa família. Mas, essa postura é paradoxal sob o aspecto econômico. Pode estar correta, porém é enrustida no sistema da informação incompleta, fragmentada e dissismulada. É óbvio que os detentores do maior volume de capital circundante não fazem questão de esclarecer, porque o país é um dos mercados mais atraentes para os investidores internacionais, simplificando tudo na questão cambial e na taxa de juros. Caso divulgassem amplamente, pesquisas de consultorias respeitáveis, seriam obrigados a abandonar sistemas maniqueístas - antídotos à elevação da auto-estima e, portanto, de estímulo à revolta popular.

O consumo de cerveja nos Estados Unidos, para exemplificar, cresceu 2% acumulado nos últimos cinco anos. No Japão, 45 prefeituras exigem um atestado comprovando que o morador tem onde colocar seu carro. Caso contrário, não compra veículo novo. O consumo de biscoitos não cresce há dez anos na Inglaterra. Para compreender, é preciso evocar o conceito de mercado maduro (o crescimento do consumo é equivalente ao incremento vegetativo da população). Essas economias maduras como EUA, Europa e Japão necessitam de mercados, onde a elevação do consumo supere a taxa de nascimentos. Quais são os três maiores? Brasil, Índia e China. Esse último tem 76% de seus cidadãos vivendo no campesinato. A Índia 72% e o Brasil apenas 21%.


Números amordaçados

Dados da Consultoria AC Nielsen mostram a evolução do mercador consumidor brasileiro nos últimos cinco anos: crescimento de 859% em fraldas descartáveis, 369% em mistura para bolos, 310% em alimentos para gatos, 282% em leite flavorizado, 273% em alimento para cães, 219% em leite Longa Vida, 201% em massas instantâneas, 176% em cereais matinais, 116% em carnes congeladas, 81% em água mineral... E tem mais:

- O Brasil possui 1,8 milhão de lavadouras de roupas, 82% mais que o Canadá, situando-se como quarto mercado do mundo

- 8,02 trilhões de litros de refrigerantes, 343% acima do Canadá, garantindo a terceira posição nesse segmento no planeta

- US$ 5,4 bilhão em alimentos diet ou light, com projeção de atingir US$ 6 bilhões até o final deste ano

- 63,4 mil toneladas de creme dental, 456% mais que a Itália

- 59 mil títulos de livros, 12% superior à Itália

- US$ 4 bilhões em CDs, quinto maior mercado fonográfico da Terra

- Um milhão de toneladas de biscoitos, 30% acima do Japão, o que faz do Brasil segundo maior mercado mundial

- Quatro milhões de geladeiras, 66% a mais que no Reino Unido tornando-se quarto maior mercado

- 50% do total de usuários da internet, 40% da América Latina e o dobro do México


Ora, as multinacionais investem aqui, porque o Brasil é o quinto país em poder de compra, precedido pelos EUA, China, Japão e Alemanha. Portanto, o país precisa com urgência discutir de forma mais abrangente, envolvendo toda a população, questões ambientais. Enquanto nação continental com tantas riquezas, está na hora de proteger sua natureza, sem abortar seu crescimento. E seja quem for o próximo mandatário do país, forçar políticas de desconcetração de renda. É um absurdo que a reforma agrária, por exemplo, seja tratada como um bicho de sete cabeças e o salário mínimo seja fantoche de uma Constituição que não funciona.


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