quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

LULA é inegável


O filme "Lula, o filho do Brasil", de Fábio Barreto, abriu nesta noite o 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com exibição na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional, com uma lotação acima da capacidade para 1.300 lugares.
Isso causou confusão e atraso. O produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão, ao subir no palco antes da exibição, reclamou que não tinha sequer um soldado de bombeiro para garantir a segurança, pois se estourasse uma lâmpada no local, haveria pânico, e "pessoas morreriam"...
O diretor do filme pegou o microfone e reclamou da coordenação do festival, pois não havia poltronas reservadas para a equipe e elenco, todos estavam sentados no chão. Ameaçou não iniciar a sessão se não fosse resolvido o problema. Constrangidas, algumas pessoas foram "convidadas" a cederem seus lugares, e outras, não perdendo o bom humor brasileiro, gritavam "senta aqui no meu colo, Cleo Pires!"
Depois de uma hora de espera, o filme começou sob um volumoso silêncio de uma plateia atenta ao que viria. Todos estavam curiosos para ver o filme baseado num personagem real. A história de um operário que chegou à presidência da República. Ele, Lula, que não estava lá, somente a primeira dama Marisa Letícia, alguns ministros e outras autoridades.
Logo nos créditos iniciais uma alerta dos produtores: o filme não teve financiamento de nenhum órgão do governo e sobe na tela uma infinidade de logomarcas de empresas multinacionais que apostaram no filme orçado em R$ 16 milhões. Caríssimo para os padrões de um filme brasileiro. Uns trocados, cerca de 9 milhões de dólares, só para dar largada a qualquer porcariazinha hollywoodiana.
"Lula, o filho do Brasil", embora declaradamente simpático ao personagem, não chega a ser um filme chapa branca, em que pese a coincidência do seu lançamento no país às vésperas de eleições presidenciais. Com uma boa direção de atores e acabamento técnico impecável, o filme conta a trajetória pessoal e profissional de Lula, desde o seu nascimento, em 1945, no sertão pernambucano, até 1980, quando era o maior líder sindical do país.
Um percurso marcado por dificuldades, perdas e uma notável capacidade de superação. Baseado no livro homônimo de Denise Paraná, que escreveu o roteiro juntamente com Fernando Bonassi e Daniel Tendler, "Lula" não provoca vales de lágrimas, como em "2 filhos de Francisco", mas é visível a tentativa em muitas sequências de comover, de cutucar a emoção e pelo coração conquistar ou adormecer a razão do espectador, principalmente, quando a trilha sonora sobe para se fazer notar, apesar de bem composta por Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum.
Alguns fatos são omitidos na história, como a mulher grávida e abandonada que o próprio Lula confessou em algumas entrevistas; o linchamento de um gerente de empresa pelos operários grevistas no ABC paulista, onde no filme Lula se mostra indignado, quando há depoimentos que ele não participou diretamente da agressão, mas não se indispôs com o que viu. Se não há a intenção de julgar, avaliar, formar uma opinião, o filme escorrega no claro propósito de traçar o perfil de um homem comum sem defeitos, castigado desde o início da vida pelas dificuldades e movido pela pertinácia e firmeza, tendo como estímulo que lhe manteve reerguido a figura da mãe, dona Lindu, numa interpretação corretíssima de Glória Pires, que transforma a estampa de sua personagem numa daquelas fortes mulheres do teatro grego, ou até mesmo a velha e robusta Jane Darwell, mãe de Henry Fonda em "As vinhas da Ira", clássico de John Ford, de 1940.
O desconhecido Rui Ricardo de Diaz, no papel principal, não tem o carisma de Lula, mas está perfeito no personagem, dando-lhe todas as marcações e características de fala e gestos, sem cair na armadilha da caricatura.
Com lançamento previsto com 500 cópias, outro fato inédito no cinema nacional, o filme se garante, com ou sem ano eleitoral. E mais: será lançado no exterior. Afinal, lá fora Lula não é o cara?

Um comentário:

  1. Olá, Jorge Alberto!

    Prazer enorme em vê-lo, finalmente, incluído na blogosfera! Várias vezes cobrei, como colega e amiga, que registrasses tuas impressões, sempre oportunas e inteligentes, num blog pessoal.

    Chegou a hora. Estou atenta e grata.

    Abraços,

    Nivia Andres

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